Número de mortos em ‘Guta Oriental’, na Síria, passa de mil, diz ONG
Ataques dificultam chegada de ajuda humanitária. Região fica nos arredores de Damasco.
Mais de mil civis morreram desde o início, a três semanas, da ofensiva do regime sírio contra o enclave rebelde de Guta Oriental, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Das 1.002 vítimas contabilizadas até o momento, 215 são crianças, segundo a ONG.
A região fica nos arredores de Damasco e é um antigo destino de viagens de final de semana para os moradores da capital síria. Atualmente, tornou-se um dos últimos redutos de rebeldes que lutam contra o regime do ditador Bashar Al-Assad.
Nesta região, de cerca de 100 quilômetros quadrados, 400 mil pessoas vivem cercados por forças pró-Damasco. O cerco a Guta Oriental teve início em 2013, dois anos depois de explodir a guerra na Síria.
Apesar de ser isolada e bombardeada há anos, desde o dia 18 de fevereiro Guta Oriental é alvo de uma nova campanha aérea lançada pelo regime de Assad e seu aliado, a Rússia.
‘PULMÃO VERDE’ PERTO DE DAMASCO
“Guta” é um nome informal usado para se referir aos subúrbios de Damasco, que ficam no entorno do rio Barada.
Antes da guerra, Guta era uma região agrícola produtora de vegetais e frutas, incluindo damasco. Já foi o maior fornecedor de arroz, açúcar, frutas e vegetais da capital.
Era também considerado um “pulmão verde”, onde os habitantes da capital passavam o final de semana.
GRUPOS QUE ATUAM EM GUTA ORIENTAL
Os residentes de Guta Oriental estiveram entre os primeiros a se rebelar contra o regime de Assad, em 2011. A região foi tomada por rebeldes um ano depois, quando a agitação se tornou um conflito armado, com a repressão às manifestações pró-democracia, e uma sangrenta guerra civil.
Em julho de 2012, opositores que partiram para a luta armada e formaram o Exército Sírio Livre (ESL) lançaram, a partir de Guta, uma batalha contra Damasco.
A partir dessa região, os rebeldes lançam projéteis contra bairros de Damasco.
ATUALMENTE, TRÊS GRUPOS PRINCIPAIS LUTAM EM GUTA ORIENTAL:
Jaysh al-Islam, ou Exército do Islã. É a maior facção rebelde na região, com entre 10 mil e 15 mil combatentes, que lutam para substituir o governo Assad por um novo regime baseado na lei islâmica (sharia).
Faylaq al-Rahman, ou Legião al-Rahman. É ligado ao ESL e rival do Jaysh al-Islam, e diz que tem o objetivo de derrubar o regime sírio, mas não pretende transformar o país em um Estado do Islã.
Hay’at Tahrir al-Sham, ou Organização para a Libertação do Levante. A coalizão quer implementar uma doutrina religiosa ultraconservadora e é formada por membros da antiga Frente al-Nusra. Nega que seja a filial local da Al Qaeda.
DESNUTRIÇÃO E FOME
Os constantes bombardeios aéreos e de fogo de artilharia, além de deixar muitas vítimas civis, destruíram edifícios residenciais, mercados, escolas e hospitais.
O cerco à região provocou um aumento nos preços e uma escassez de commodities. Consequentemente, gerou falta de alimentos, fome, desnutrição e uma séria crise humanitária. Os comboios humanitários da ONU raramente conseguem entrar na região.
Em 2017, a ONU condenou a “privação deliberada de alimentos para os civis” como uma tática de guerra, após a publicação de fotografias “chocantes” de crianças esqueléticas no leste de Guta.
E o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) denunciou a pior crise de desnutrição desde o início da guerra em 2011, com 11,9% das crianças menores de cinco anos sofrendo de desnutrição grave, contra 2,1% em janeiro.
Na última sexta-feira (9), Guta foi alvo de um ataque aéreo após chegada de comboio humanitário, segundo relato do OSDH citado pela Reuters.
Pouco antes do registro do ataque, o porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Damasco, Ingy Sedky, havia informado que 13 caminhões que transportavam comida e remédio tinham entrado no enclave rebelde nos arredores de Damasco, de acordo com a France Presse.
As equipes se organizavam para entregar a ajuda, que deveria ter chegado no dia 5 de março, mas foi adiada por causa de bombardeios na região. Na quinta-feira (8), ataques adiaram de novo a chegada de ajuda humanitária à população local.
Apesar da Organização das Nações Unidas (ONU) ter aprovado um cessar-fogo para a região, ela não foi colocado em prática. Nem mesmo durante as cinco horas diárias, que os russos se comprometeram a respeitar, a trégua humanitária funcionou. A Rússia culpa os rebeldes.
Do G1