Distorções no entendimento do conceito de inteligência é tema de palestra na PGJ
O I Encontro Estadual de Inteligência em Nível Estratégico, Tático e Operacional foi encerrado na manhã desta sexta-feira, 18, na Procuradoria Geral de Justiça, com a palestra “Inteligência: efeitos das distorções no entendimento e na aplicação” proferida pelo agente da Polícia Federal no Distrito Federal, Felipe Scarpelli de Andrade, que é analista de inteligência estratégica.
O palestrante dividiu o tema em três partes: a origem da inteligência, a inteligência na Polícia Federal e o conceito de inteligência. Mas o principal foco de toda a explanação foi a diferença entre as atividades de inteligência e de investigação, que são muitas vezes confundidas.
ORIGEM
Sobre as origens do conceito de inteligência, Felipe Scarpelli explicou que a concepção da atividade remete ao célebre livro “A Arte da Guerra”, do chinês Sun Tzu, tratado militar escrito no século IV a.c.
Mas foi somente no século XVIII com a estruturação das organizações estatais, o surgimento dos embaixadores e da espionagem, além da utilização de códigos e cifras, que a inteligência foi se configurando.
Outro fato que marcou o princípio da atividade, ocorreu durante a Batalha de Waterloo, entre a Inglaterra e a França de Napoleão, quando a família inglesa, de origem alemã, Rothschild obteve conhecimento prévio de que a Inglaterra venceria o conflito, por meio de um eficiente esquema de comunicação. Com este dado, a família disseminou no país um rumor de que a França era a vencedora, causando a queda das ações da Inglaterra na bolsa de valores. Com os valores em baixa, a família comprou quase toda a economia inglesa. Com a chegada da informação da vitória da Inglaterra, os Rotschild se tornaram uma das famílias mais ricas da Europa.
Ao longo da história, a inteligência também se desenvolveu na Guerra Civil dos Estados Unidos (1861-1865), na II Guerra Mundial, especialmente no ataque japonês à base naval americana de Pearl Harbor, que determinou o surgimento da CIA, e durante a Guerra Fria, com a valorização da espionagem estatal. “O espião era um agente de inteligência. Ele busca o dado negado, que é a matéria-prima da inteligência”, frisou.
Segundo o palestrante, depois da queda do muro de Berlim, em 1989, ocorreu uma crise das agências oficiais de inteligência, que deram lugar às agências privadas, que passaram a focar na espionagem industrial, no terrorismo internacional e nas questões ambientais.
No Brasil, a atividade de inteligência remete ao ano de 1927, com a criação do conselho de Defesa Nacional. Mais tarde, em 1964, foi criado o Serviço Nacional de inteligência (SNI), extinto pelo governo Collor em 1990. “Por ser temido, o SNI contribuiu para disseminar uma ideia deturpada de inteligência”.
Posteriormente, em 1999, o Estado brasileiro criou a Agência Brasileira de Inteligência, que culminou no surgimento do Sistema Brasileiro de Inteligência.
O palestrante ainda apresentou a estrutura de inteligência da Polícia Federal, dando destaque ao Serviço de Análise Estratégica e Estatística (Saee) e a Divisão Anti-Terrorismo (DAT). Sobre o assunto, Felipe Scarpelli demonstrou preocupação com a estrutura de inteligência e segurança do país para evitar atos de terrorismo nos eventos da Copa do Mundo e das Olimpíadas. “O Brasil vai ser um palco mundial e não há um planejamento contra o terrorismo”, considerou.
DIFERENÇAS
O assunto principal da palestra foram as diferenças e semelhanças nos conceitos de inteligência e investigação. Segundo o agente federal, a primeira tem por finalidade a produção de conhecimento para a tomada de decisões. É de natureza consultiva. “A inteligência pode trabalhar junto à investigação para oferecer assessoramento”.
Já a investigação tem como objetivo a produção de provas criminais. É de natureza executiva. “A escuta telefônica, por exemplo, pela legislação brasileira, só pode ser usada para fins de investigação criminal”, exemplificou.
No final, os três palestrantes dos dois dias do evento: Felipe Scarpelli de Andrade, Lívia Karina Passos Martins (Ibama) e Joanisval Brito Gonçalves (Senado Federal), responderam a questionamentos da plateia.
MEIO AMBIENTE
Na tarde de quinta-feira, 17, a superintendente de inteligência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Lívia Karina Passos Martins, proferiu a palestra “Inteligência Ambiental: evolução, aplicação e desafios”. Ela explicou que Inteligência Ambiental é uma atividade nova no Brasil e tem o objetivo de monitorar áreas de proteção em todo o país para auxiliar na tomada de decisões sobre a proteção dos recursos naturais. “O Ibama foi inserido no sistema brasileiro de inteligência em setembro do ano passado. A partir de então a atividade de fiscalização está sendo executada pela inteligência ambiental”, completou.
Lívia Karina Passos ressaltou que entre os focos ou alvos do processo de monitoramento por meio da inteligência ambiental estão o desmatamento da “Amazônia, a pesca ilegal, a proteção de terras indígenas, a biopirataria (retirada do país de recursos biológicos, como, por exemplo, o contrabando de sementes) e o tráfico de animais silvestres.
Sobre o encontro, a palestrante comentou: “Este evento é excelente, porque dissemina o conhecimento sobre a atividade de inteligência como instrumento de assessoramento para tomada de decisão em diversas áreas”.
Fonte: MPMA